13 de mar. de 2017

R.FUSCO por R.WERNECK Sob o signo do imprevisto

      Meu livro “Rosário Fusco por Ronaldo Werneck/Sob o signo do imprevisto” será lançado em Cataguases, no Centro Cultural Humberto Mauro, no próximo dia 18 de março, a partir de 19 horas, na noite de abertura da exposição “Verde 90 Anos (1927/2017), organizada por Joaquim Branco, P.J.Ribeiro e por mim. Vejam a seguir os textos de orelha e de apresentação do livro, escritos por Luiz Ruffato e Joaquim Branco.




Sob o signo do imprevisto

Luiz Ruffato


      O romancista, ensaísta e poeta Rosário Fusco (1910-1977) enquadra-se naquele limbo em que encontramos os escritores injustiçados da literatura brasileira. Nascido em São Geraldo (MG), mas levado aos seis meses de idade para Cataguases (MG), em vida Fusco chegou a ter sua importância reconhecida – o crítico Antonio Candido, em artigo intitulado “Surrealismo no Brasil”, publicado em 1945 no volume Brigada Ligeira, recomenda a leitura de O Agressor, chamando a atenção para a “habilidade com que é arquitetado e conduzido”. 
     O Agressor, lançado em 1943, tornou-se o mais afamado livro de Fusco – suas raras edições são hoje disputadas pelos leitores mais exigentes. Também aclamado é outro romance do autor, Carta à Noiva, de 1954, listado pelo ficcionista Ivan Angelo como um dos dez mais importantes da nossa história literária. Em boa hora, portanto, o poeta e cronista Ronaldo Werneck nos oferece este excelente Sob o signo do imprevisto.
   Werneck, que teve o privilégio de desfrutar a amizade de Fusco, não tenta compor uma biografia, que seria um retrato de corpo inteiro, mas sim nos brinda com recortes de momentos específicos, que, vistos em conjunto, formam um mosaico capaz de nos revelar a grandeza deste personagem intenso, polêmico e essencial. São lembranças, memórias, evocações e confissões com que Werneck, com sua enorme capacidade de fazer convergir objetividade e subjetividade no mesmo espaço textual, edifica um monumento em tributo a Rosário Fusco.
      O livro inclui ainda a longa e celebérrima entrevista de Fusco ao mitológico jornal Pasquim, em março de 1976, e um conto-homenagem – eu chamo de conto – de Ronaldo Werneck, “Ringo não discute: mata”, que exibe o talento do poeta para a ficção. Em suma: Sob o signo do imprevisto é um título para constar da biblioteca de todos aqueles que cultuam Rosário Fusco e admiram Ronaldo Werneck.
São Paulo, 05.02.2017




"Um Rosário vale três terços"
Joaquim Branco


          Ronaldo Werneck me pede para prefaciar o seu novo livro sobre Rosário Fusco.
       Difícil tarefa, porém tentadora. Impossível deixar de atender. Trata-se de dois grandes amigos (um, já falecido) e em relação aos amigos geralmente não se tem uma dimensão por assim dizer justa de avaliação.
         Por outro lado, nesse caso a empreitada torna-se até fácil. Vejam por quê.
       Não contando, anteriormente, meu conheci­mento de sua obra, convivi com Rosário Fusco por cerca de 10 anos em Cataguases, na sua casa da Granjaria, bairro onde hoje moro.
      Com Ronaldo, desde a infância, tive longa convivência, quando jogamos botão, bafo-bafo, bola, sinuca e, mais tarde, frequentamos escolas, criamos suplementos, antologias, festivais – quase tudo que se pode (e não se pode) esperar de jovens amigos.
         Com Fusco, aprendi o que a universidade não pode dar: o savoir faire literário, o que é um verda­deiro romancista, a coragem, o medo e o desafio da escritura: "com quantos paus de faz uma canoa esté­tica e existencial" (como ele dizia). De vez em quando, sempre pela manhã, bem cedo, me chamava a sua casa. "Abunde-se" – dizia ele. Eu me sentava e ouvia/via sua atuação teatral, abusiva, descentrada e centrada, quando à minha frente desfilava um mundo de literatura, filosofia, arte, ciência e tudo que saía de seu talento fulgurante. Outras vezes, pa­recia nostálgico, misterioso, com seu robe preto, a me receber de cabeça baixa, dostoievisquiano, monossi­lábico. Queria me confessar algo...
       Dividi muitas experiências com Ronaldo, vi­vemos os trepidantes anos 60 da contracultura e das vanguardas, os sonhos dos 20 anos, namoros e festas e farras etc.
          Daí mais do que justo que eu prefacie este seu livro feito de vivências do homem e escritor Rosário Fusco, pois é impossível separar os dois.
     O leitor que se prepare. Aqui conhecerá a (a)ventura imperdível de um romancista que excede o romance e extrapola todas os limites da criação li- terária – e por que não dizer? – humana? Além de farta documentação de uma história de vida, ilustra­ções com fotos, pedaços de poemas, de bilhetes, suas boutades, opiniões sobre outros artistas, onde tudo excede e quase nada se explica.
         O livro registra muito do que Ronaldo presen­ciou, leu e aprendeu – de detalhes pessoais a confis­sões "inconfessáveis", de reuniões noite adentro a tiradas criativas sobre a natureza dos homens e a es­pecificidade das mulheres.
          Portanto, este trabalho de Ronaldo Werneck, que pode ser o pórtico para uma futura biografia do autor (fica a sugestão), vai direto à curiosidade do leitor, que certamente gostará de conhecer algo mais sobre esse "vulcão das gerais" e que, em tom de brin­cadeira, disse certa vez para nós: "Um Rosário vale três terços".

Cataguases, 02/02/2017



Revista VERDE
Expô 90 ANOS



 “Sou de Cataguases, cidadezinha pacata de Minas Gerais, e venho trazer a notícia de que fundamos uma revista moderna aqui. Verde é o nome da baita" – escrevia em 1927 o rapazote Rosário Fusco (17 anos recém-completados) ao escritor Mário de Andrade, um dos expoentes do nosso modernismo literário. Pois é exatamente uma baita exposição a que vai comemorar no próximo dia 18 de março, no Centro Cultural Humberto Mauro, em Cataguases, os 90 anos do lançamento da revista Verde – o principal baluarte do modernismo no interior de Minas e que, com colaborações recebidas de escritores de vários pontos do país, ajudou a disseminar o movimento Brasil afora.
Organizada pelos poetas Joaquim Branco, Ronaldo Werneck e P.J. Ribeiro, fundadores do Totem, grupo de vanguarda surgido em Cataguases nos anos 1960 – que conviveram e se tornaram amigos de vários dos integrantes da Verde –, a mostra VERDE 90 ANOS é composta por imagens & textos sobre a revista lançada em Cataguases no ano de 1927. Na noite de abertura, a partir de 19 horas, haverá um sarau com poemas dos integrantes da revista pela equipe do Proler e o lançamento de dois livros: “Uma Verde História”, de Fernando Abritta & Joaquim Branco; e “Rosário Fusco por Ronaldo Werneck: Sob o signo do imprevisto”.

Revista Verde
Por que enredos da Providência Divina foi nascer, à beira de um riacho chamado Meia-Pataca, um grupo de poetas interessantes que hão de deixar uma certa marca no momento poético que estamos vivendo?” – perguntava-se o respeitado crítico Tristão de Athayde n´O Jornal, do Rio de Janeiro, em 1928, ao escrever sobre a revista Verde, lançada no ano anterior em Cataguases.
Verde tirou seis edições: as cinco primeiras em 1927; uma em 1928; e a última em 1929, toda dedicada a Ascânio Lopes, o principal poeta do grupo, que acabara de falecer, aos 22 anos. O primeiro número publicava apenas escritores mineiros – Carlos Drummond de Andrade, Emílio Moura etc – e entre eles os rapazes da cidade, núcleo de resistência da Verde e fundadores da revista: Ascânio Lopes, Cristóphoro Fonte-Boa, Camilo Soares, Enrique de Resende (o mais velho, então com 28 anos), Francisco Inácio Peixoto, Guilhermino Cesar, Martins Mendes, Oswaldo Abritta e Rosário Fusco, o mais novo deles, com 17 anos.
Já a partir do segundo número, vieram colaborações de escritores dos quatro cantos do país e até do exterior. Principalmente dos modernistas de São Paulo, capitaneados por Mário e Oswald de Andrade, que chegaram mesmo a escrever poema famoso dedicado aos rapazes da Verde, publicado no quarto número da revista, onde diziam: “Todos nós somos rapazes/ muito capazes/ de ir ver/ de forde verde/ os ases de Cataguases”.
No terceiro número da Verde é publicado um “abusado” manifesto, que ficaria famoso e que pode ser resumido nos seguintes itens:

1.º Trabalhamos independentemente de qualquer outro grupo literário.
2.º Temos perfeitamente focalizada a linha divisória que nos separa dos demais modernistas brasileiros e estrangeiros.
3.º Nossos processos literários são perfeitamente definidos.
4.º Somos objetivistas, embora diversíssimos uns dos outros.
5.º Não temos ligação de espécie nenhuma com o estilo e o modo literário de outras rodas.
6.º Queremos deixar bem frisada a nossa independência no sentido “escolástico”.
7.º Não damos a mínima importância à crítica dos que não nos compreendem.

Lançamentos, sarau, bate-papo
Além do lançamento dos livros de Joaquim Branco e Ronaldo Werneck e do sarau com poemas dos integrantes da revista, a exposição VERDE 90 ANOS vai mostrar fotos individuais e em grupos dos membros do movimento, de várias situações em casa, com a família, as capas das revistas e livros, os textos mais representativos, os logotipos criados por Rosário Fusco, desenhos e caricaturas, e as biografias resumidas de cada um dos “Verdes”. Haverá também um bate-papo com os organizadores, aberto a perguntas do público.
Em 1928, no nº 5 da Verde, ao escrever sobre o reconhecimento em âmbito nacional da revista, dizia entusiasmado o poeta paulista Ribeiro Couto: “Todo o Brasil está surpreso: existe Cataguases! (...) Todo mundo foi ao mapa, roçou o dedo pela superfície, procurando, apertando os olhos, até achar: Cataguases”.
Então, que o público de agora aperte bem os olhos e roce os dedos no googlemap até achar: Cataguases. E que venha ver a mostra VERDE 90 ANOS.
Agradecemos a divulgação.

Joaquim Branco
joaquimb@gmail.com
(32) 98888-2344 e (32)3421-8280

Ronaldo Werneck
roneck@ronaldowerneck.com.br

(32) 98819-0955 e (32) 3422-2671