11 de nov. de 2022

GAL HÁ 50 ANOS: A MORTE É DA VIDA

 







GAL COSTA: SEM DOR

NA CONSCIÊNCIA

Chamada de capa/ 1º Caderno

Correio Manhã (22.03.72)

– Sabe, Eu me considero uma boa pessoa e seria incapaz de matar alguém. Tenho absoluta consciência de que não tive culpa. – A cantora Gal Costa, mais calma, embora abatida, chegou ontem ao Rio, e explicou como foi o acidente em Governador Valadares, onde atropelou uma mulher. Traumatizada, ela afirma que está fazendo o que pode pela família da vítima – um velho e duas crianças – e vai comprar uma casa nova para eles (Pág. 6).

 

Gal diz que acidente foi fatalidade

Ainda um pouco abatida, porém mais tranquila, e dizendo a todo instante que está com a consciência limpa e não teve culpa no acidente ocorrido quinta-feira última em Governador Valadares, Gal Costa chegou ontem ao Rio, vinda de Petrópolis.

– Estou providenciando a compra de uma casa para as crianças e o velho, que eram toda a família da vítima. Eles são muito pobres, vivem de pedir esmolas e estavam morando debaixo de uma ponte em Governador Valadares. Dei-lhes dinheiro para voltarem a Teófilo Otoni, sua terra. Fiz o que pude – diz Gal.

 

O acidente

          A Rio-Bahia é uma estrada muito movimentada, muito perigosa, um canal por onde é escoado todo o tráfego para o Norte/Nordeste do País. Estava anoitecendo quando ocorreu o acidente, numa reta a cerca de 200 metros de Valadares. Embora não estivesse correndo (“sabe, eu dirijo bem, dirijo há muito tempo. Mas dificilmente corro: raras vezes passo de 100, o que é uma velocidade normal em uma auto estrada”), Gal não conseguiu evitar o atropelamento.

          – Tudo aconteceu assim muito rápido, como um relâmpago. Era uma reta e eu estava a uns 90 km. Anoitecia e eu acabara de ligar os faroletes. Vinham dois caminhões em sentido contrário e eu cheguei a vislumbrar a mulher e as crianças, uns 10 metros à minha frente.  Quando me aproximava, ela entrou na pista olhando para o outro lado, como se tivesse percebido somente os caminhões. Eu já estava quase em cima e não podia frear devido à velocidade. Reduzi meu carro.

     – Mas foi tudo em vão. Ela parecia meio zonza e acabou caminhando exatamente para cima de meu carro. O choque foi bastante violento. Perdi completamente a direção e minha “Variant” começou a rodopiar, quase capotando no meio da pista. A sorte foi que Wilma, uma amiga que estava do meu lado, segurou o volante, controlando o carro: eu estava tonta, sem saber o que fazer. Os dois caminhões tinham acabado de passar e se viesse outro carro em sentido contrário poderia ter acontecido um desastre ainda mais terrível.

           Gal continua a contar: “prestamos os primeiros socorros à vitima (eu, Wilma, Giselda, mulher do Macalé, e David, um músico americano que viajava conosco) e fomos a Valadares providenciar uma ambulância, enquanto uma família da cidade, que vinha atrás de nós, continuava atendendo a mulher. Quando voltamos com a ambulância, ela já estava sendo tratada por essa família. Infelizmente não foi possível fazer mais nada: ela morreu logo depois.

        – Em Valadares, fui à delegacia explicar o ocorrido e depois entrei em contato com as crianças. Eu estava muito nervosa, chorando muito, e já vim para o Rio no dia seguinte. Felizmente, tudo já passou e agora já estou um pouco mais tranquila. Que fazer? É a vida.

Ronaldo Werneck

Rio, 22.03.72


GAL VENCEU A DOR:

– EU SOU INOCENTE

Chamada de capa/ 1º Caderno

Última Hora  (22.03.72)


UH foi ao encontro, ontem, ao mesmo tempo de Gal Costa e de Tim Maia. Ela voltava de Petrópolis sem mais aquela dor imensa que lhe deu a morte de uma mulher sob as rodas de seu carro: “A morte é da vida”. Ele estava na polícia com a mulher Janete que o acusara de agressão e agora garante: "Foi acidente o meu tapa-olho” (Pág 2).

(A matéria escrita por mim para a página 2 de Última Hora transcrevia meu texto acima, publicado no mesmo dia 22 de março de 1972 no Correio da Manhã. Naquela época os dois jornais tinham uma só redação.)

 

Ronaldo Werneck

Rio, 22.03.72








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