Na noite em que Rosário Fusco morreu em Cataguases, 17.08.77, falei com Ziraldo pelo telefone e combinamos que eu faria um artigo pro Pasquim. O texto saiu uma semana depois, e de certa forma complementava a longa entrevista que Joaquim Branco e eu fizemos com o romancista cerca de um ano antes – e que o Pasquim publicaria em março de 1976.
Assim eu iniciava um longo texto quando da morte de meu amigo, o romancista Rosário Fusco. Num tempo sem computador, internet e essas modernidades de agora, lembro que levei os originais da entrevista diretamente para a casa do Ziraldo – e, a tiracolo, minha mulher à época, Adriana Montheiro, que acabara de fazer um ensaio fotográfico com Fusco. Ziraldo deu uma rápida olhada no texto, deixando entrever sucessivos sorrisos de aprovação: “isso está ótimo, Fusco é impagável! Vai dar ótima matéria, com certeza!”.
Foi quando passei pra ele as fotos da Adriana. Ziraldo, olhou, olhou de novo e voltou a olhar, admirado: “A entrevista está ótima, mas com umas fotos dessas não precisa nem de texto, elas falam por si. São fotos que conseguem captar com precisão o ser formidável que é Rosário Fusco”. O olhar de Ziraldo era o do grande artista gráfico que sempre foi – e sacou na hora o potencial daquelas fotos que acabaram enriquecendo a entrevista, que ocupou mais de 10 páginas do Pasquim.
Aberto para obras
Corta para um dia de 1991, quando minha amiga, a arquiteta Tânia Horta, me trouxe os originais de um livro de poemas, “Coração Fechado para Obras”, que queria publicar. Disse pra Tania procurar o seu primo Ziraldo: quem sabe ele não faria a capa? Talvez a Olga Savary pudesse fazer um prefácio, que ela era expert em escrever prefácios. E passei pra ela também o contato do Massao Ohno, em São Paulo, que editava uns livros muito bem cuidados graficamente. Acabou que eu escrevi um pequeno texto para a orelha do livro, enquanto Tânia aguardava o prefácio da Olga. Ela falou com o Ziraldo, que pediu para ver os originais do livro.
Tânia e eu levamos os originais para sua casa na rua Baronesa de Poconé, na Lagoa, cuja porta era guardada por aquele poster imenso do Super Homem. Ziraldo nos recebeu em seu estúdio com o sorriso de sempre, nos abraçou e começou a manusear atentamente o livro. “Ótimo titulo, Tânia, ótimo título”. Ele estava na prancheta e passou a escrever várias vezes aquele “Coração Fechado para Obras” com sua caligrafia característica. Eu disse pra ele que falara com a Tânia pra mandar o livro pro Massao em São Paulo.
Sem nos olhar, e continuando a rabiscar o titulo sem parar, Ziraldo nos disse: “Sim, aquele japonesinho é maluco, mas faz um ótimo trabalho, tem todo um cuidado gráfico, produz belos livros, principalmente de poemas”. Percebemos que o papo findara ali, pois ele já estava focado no fazer da capa. Ziraldo disse que assim que tivesse alguma coisa falava com a Tânia.
E assim foi. Dias depois ele ligou: a capa estava pronta. Lá fomos nós, Tânia e eu, de novo pra Baronesa de Poconé. Sentado na prancheta, Ziraldo nos mostrou a capa que fizera: tudo muito sóbrio, o fundo branco com lettering em preto. Aquele “lettering-Ziraldo”, inconfundível, as letras maiúsculas de sempre, sua marca e assinatura, E, no caso, vazando por toda a capa e contracapa, tudo muito ousado, as letras garrafais ocupando capa e contracapa.
De repente, ele toma de novo a capa que estávamos olhando, pega um lápis de cor e dá o re/toque de gênio: preenche de vermelho o vazio dos dois “o” da palavra coração. Tânia e eu vimos ali, naquele momento, o layout da capa, que já era ótimo, tornar-se soberbo. Touché!
Elisa e o elefante
Era um final de tarde qualquer de 1993, o carro correndo lento em meio ao trânsito tumultuado do Leblon. No banco de trás, Vilma, a mulher do Ziraldo; Fernanda, sua secretária; e Tânia Horta, à época já minha namorada. Eu estava na direção e tinha ao meu lado, ninguém menos que o Ziraldo. Convidado por Sérgio Cabral, o pai, Ziraldo ia todo serelepe para tomar posse na Academia da Cachaça, na rua Conde Bernadotte.
Foi quando a Tânia pediu para eu contar “aquela história” da Elisa Lucinda. Foi assim: Elisa e eu nos conhecemos numa noitada carioca num bar da Pacheco Leão, no Jardim Botânico, o Botanic – refúgio de poetas de vários quilates, que ali se apresentavam, falavam seus poemas e falavam, falavam.
E foi lá e ainda lá que vi Elisa Lucinda pela primeira vez, falando com grande verve um de seus enormes poemas. Fiquei fascinado com aquilo tudo, a mulata, os verdes olhos, a voz rouca, o soar de seu poema-espanto. Também eu falara antes alguns de meus poemas. Terminada sua apresentação, Elisa sentou-se em minha mesa. Mal chegamos a ser apresentados e logo elogiei sua bela performance. Ela devolveu os elogios, dizendo que também gostara de meus poemas. E adiantou: “Quem sabe a gente não se reúne e faz uma apresentação juntos?”. Eu disse que sim, que era uma boa ideia. Quem sabe ela não iria lá em casa pra gente ensaiar?
Elisa ficou séria: “Ah, Ronaldo, não vou na sua casa, não”. “Mas, Elisa, por que não?”. Ela então mandou essa: “Não vou não, porque você vai querer me comer”. Surpreso, eu disse: “O que é isso, Elisa?”. Aí, ela soltou aquele sorriso de quem me pegara pelo pé: “Ah, não? Você não vai querer me comer? Então é que não vou mesmo. O que vou fazer lá, se você não vai me comer?”. Pano rápido, com muitas risadas.
Muitas e muitas risadas dentro carro em que estávamos, Ziraldo quase gargalhando. Foi quando ouvimos a voz da Fernanda (que era muito surda): “Ziraldo, conta aquela do elefante!”. As risadas aumentaram altissonantes que só elas. Ao nos ver rindo, Fernanda achou que estivéssemos contando alguma piada. Chegamos ainda rindo à Academia da Cachaça: Ziraldo, pelo que me lembro, bebia pouco, quase nada. Eu, “modestamente” estava numa fase não–etílica. Então, pelo menos para nós, aquela foi uma noitada de Coca. Cola, seus malvados!
Com carinho, please!
Elisa Lucinda no meu colo: “Com carinho, please!
O namoro com a Tânia acabou. “Pasarán más mil años, muchos de más/ Yo no sé si tenga amor la eternidad”, como no bolero famoso de Luis Miguel. Fiquei sem ver o Ziraldo por uma eternidade. Até que um dia qualquer da primeira década deste século nós nos encontramos na inauguração de um bar, quase casa de shows, ou coisa que o valha, na rua do Lavradio. Local especializado – vejam só a sina dos não-bebuns – em cachaça, a própria. Bar de mineiro, claro, do Plinio Fróes, também dono do Rio Scenarium, quase em frente. Eu fui a convite de minha amiga, a cantora lírica Maria Lúcia Godoy, que seria homenageada. Mal chegamos, demos com o Ziraldo, encostado no balcão, conversando com o Plínio.
Nem deu tempo de nos cumprimentarmos, pois Ziraldo logo lançou de lá: “E aí, comeu?”. Na hora mal me lembrei da Elisa Lucinda, mas logo dei uma risada e disse pra ele: “Qual o quê, sô! Ela anda sempre lá em casa, viramos bons amigos, mas não rolou nada”. Não sei se ele acreditou, ma è vero! Elisa e eu ficamos bons amigos para sempre, embora hoje pouco nos vemos, eu aqui em cá/tá e ela lá no Rio. A última vez que nos encontramos foi numa Flip de Paraty, 2014. Elisa lançava seu livro “Fernando Pessoa, O Cavaleiro do Nada”.
Foi uma festa, não só literária. Ela me deu o livro com a dedicatória: “Ronaldo, querido, saudades da sopa e das noitadas no Nogueira”. O Nogueira, no Baixo Copa, foi meu bar-escritório por vários anos-madrugadas. Tenho saudades da inacreditável Elisa, seus insights, sua alegria. Ah, sim: essa foto que está aí em cima. Aconteceu também durante outro lançamento, mas de um de meus livros no Rio, 2005. Elisa chegou e abafou de uma sentada só. Literalmente: sentada no meu colo, como quem não quer nada, para espanto do (in)distinto público, pede meu autógrafo: “Com carinho, please!”
E a do elefante?
Na tarde do sábado em que Ziraldo morreu no Rio, 06.04.2024, soube pelo Joaqum Branco. “Puxa, até o Ziraldo, eu disse, logo ele que eu julgava o único realmente imortal de todos nós”. Numa entrevista de poucos anos atrás ao Canal Arte1, Ziraldo – com a mesma voz rouca, mas agora meio sumida, às vezes meio esquecido, titubeando, ainda era capaz de citar Einstein. Estava ali um Ziraldo de fala lenta, atravessado pela doença, a fala que falha: seus perrengues, suas ziquiziras, sua malasorte. Um Ziraldo capaz de trocar até a data do AI-5, quando ele e a turma do Pasquim foram presos. “Era novembro de 1968”. Não, Ziraldo, foi em dezembro, 13. Et pour cause.
Mas, como disse, conseguiu citar Einstein: “a imaginação é mais importante que o conhecimento”. Imaginação e criatividade que assomaram em sua vida como se para sempre. Pois é, Ziraldo se foi com o seu talento, sua enorme imaginação e nos deixou sem saber como era aquela piada do elefante. Pô, Ziraldo, logo a do elefante, cara?
Neste
cinepoema, a poesia vive uma odisseia no espaço. “Selva
Selvaggia” não
é o título de mais um livro de poesias, mas sim o nome de
um cine-poema. O roteirista e diretor extraiu o argumento desta edição de fatos
vivenciados por ele mesmo no eixo Minas-Bahia-Rio, entre 1962-1975, e de
“outros lidos, vistos, consumidos – pelo telstar, pela tv, pelo cinematógrafo”.
Para Glauber Rocha, um filme não é arquitetura de efeitos, mas expressão visual de
problemas. Talvez esteja nestas palavras de Glauber a explicação para a
proposta poética de Ronaldo, que sem dúvida alguma suou e sofreu para compor
seu poema – “na rua, na cama, no teclado da máquina, subitamente dentro de um
cinema”. Com uma primeira montagem de “Selva Selvaggia” (com 66 takes de certa forma mantidos ou
reestruturados nesta montagem atual), o autor foi premiado em 1970 pela União Brasileira de Escritores.
Teve outras premiações – na primeira promoção de poesia na
Guanabara, no primeiro e segundo festival de poesia de Pirapora (neste último
recebeu o prêmio “Carlos Drummond de Andrade”). Ronaldo Werneck é um poeta “amadurecido” em barris de carvalho. Seu poema é uma dose dupla de batida de limão
misturada com muitos copos de cerveja, duas vodcas e vários uísques.
A quem brinda? A Oswald de Andrade,
Fellini, Mallarmé, Jorge de Lima, Mário Faustino, João Cabral, Maiakóvski,
Camões, e.e. cummings e muitos outros. O que brinda o poeta? A palavra e o
homem. Em “Selva
Selvaggia”,
o leitor-espectador encontrará
dez sequências, e a primeira
abre a cena com o poeta refletindo sobre seu ofício: procurando estruturar os elementos necessários para a cine-viagem, através das palavras, imagens, espaços em
branco.
Vejamos o poema “Três haicais à la
carte”: 1) os brancos impressos/ entre as letras são tetas/ leite submerso. 2)
pedra sal e sonho/ apreender com o corpo/ sol cotidiano. 3) do amor não a/
prendeu a tonalidade/ar e amar´elo”.
Notam-se influências joycenas – pelas
associações sonoras – e de cummings – pela desintegração das palavras.Infelizmente não posso reproduzir aqui os melhores
exemplos de total libertação,
como acontece nos poemas “Telstar”, “2001 – o espaço poético”, “Canção
da espera”, “Réu´p”, Full-time”, “Pranto-socorro” e outros em que as palavras
se agrupam coerentemente e se estruturam formando mosaicos visuais e fragmentos
sonoros.
O poeta encerra a sequência cinco com o
poema-processo “Pop/lar”– um poema eletrodoméstico social, em que aparece uma página de jornal
anunciando uma liquidação de geladeiras, aparelhos de tv, liquidificadores,
fogões, bicicletas, enceradeiras. Na mesma página, a notícia – “O mundo é macio
e perigoso” – é o título do poema-texto, que tem como ilustrações fotografias
de pessoas rindo e correndo de felicidade. Neste poema-texto Ronaldo mostra em
versos como vê a realidade social deste mundo macio e perigoso. – “Uma canção
de espera/ uma canção de esperança/ ancião/ ânsia/ canção/ anunciação/
retribuição/ risos/ grunhidos/ febre/ vômito/ de esperança/ é o mundo/ que te
anuncio”.
Num total de 86 poemas, “Selva Selvaggia”é um desabafo de seu autor, refletido em uma boa dose
de sentimentalismo poético,
misturado com muita poesia concreta e alguns poemas-processo.
Ulla
me liga da Califórnia: “Papi, estou em San Francisco. O que você quer
daqui?”. “De San Francisco? Bem,
querida, vamos dizer... uma foto sua com a Golden Gate Bridge ao fundo. Você bem
sabe como o papai adora pontes: a Ponte Velha daqui, sobre o Pomba; a Ponte Vecchio
sobre o Arno em Florença; as do Porto sobre o Douro em Portugal; e até a do
poeta Sá-Carneiro, aquele “qualquer coisa de intermédio”, aquele “pilar da
ponte do tédio”.
“De San Francisco?”
– volto a repetir. “Fora a Golden Gate, não deixe de visitar a livraria fundada
por Lawrence Ferlinghetti, um de meus poetas preferidos, a City Lights Books”. No outro dia, Ulla de novo: “Papi, estou na City Lights, maravilhada, que bela
livraria! Praticamente um andar só de poesia (vejam acima o vídeo que Ulla fez na livraria). Qual livro do Ferlinghetti
você quer de presente?” – Algum de seus livros de poemas, Ulla. Menos A Coney Island of the Mind, que já li e
tresli.
Autêntica MP, de um só jato (palavra certa) Ulla deixa San Francisco e
já está no Canadá. MP? Sim, “Mala Pronta”, pois ela curte mesmo é viajar, que
nem nossa prima Regina – essa sim, a reconhecida e internacional rainha das
MPs. E logo Ulla me liga do Panamá. “Do Panamá? Mas o que você está fazendo aí,
minha filha?” “Meu voo de volta faria uma conexão aqui, mas houve um problema e
vou ter que dormir no Panamá, pois só voo amanhã. O que você quer do Panamá, papi?” Brinquei
com ela: “Vai ver o Canal, e já que não há ponte à vista me traga um chapéu,
pois ninguém sai daí sem trazer um dos famosos chapéus do Panamá.
Dias depois, meus
filhos Ulla e Pablo e minha nora Juliana chegam para o fim de semana aqui no
Shangrilá. Surpresa: Ulla não só me trouxe dois livros de Ferlinghetti como um
Panamá autêntico, um chapéu impecável: um sombrero
de alta calidad. Pra ninguém botar
defeito. Chapéu na cuca, Ferlinghetti
nas mãos, começo a folhear os livros que me presenteou: A Far Rockaway of the Heart e Ferlinghetti
a Life, uma edição ampliada de sua biografia, por Neeli Cherkovski.
Na verdade, já li e
tenho ainda hoje a edição bilíngue da Mondadori (inglês-italiano, 2000) de A Far Rockaway of the Heart/ Un luna park
del cuore – que comprei em Roma, em 2006, e foi tema de uma crônica que
está em meu livro “Há Controvérsias 2”, de 2009, republicada em 2021 por
ocasião da morte do poeta em 22 de
fevereiro de 2021, aos 101 anos. Vejam link para essa crônica, que está aqui em meu blog,
ao final deste texto.
Ali, eu me arrisco
até mesmo a traduzir um dos poemas de que mais gosto, exatamente o de abertura
do livro: Everything changes and nothing
changes/ Centuries end/ and all goes on/ as if nothing ever ends. “Tudo
muda e nada muda/ séculos findam/ tudo continua/ como se nada findasse”. Que noitaliano do livro que eu trouxe de Roma
resultou em Tutto cambia e niente cambia/
Finiscono secoli/ e tutto continua/ come nulla finisse.
Poema que desde aquela
primeira leitura romana me lembrou o Eliot de “East Coker”: In my beginning is my end. Now the light
falls./ You say I am repeating/ something I have said before. I shall said it
again./ In my beginning is my end. Now the light falls. Palavras que também
não sei bem o porquê me levam àquele Caetano Veloso de “Tudo ainda é tal e
qual/ e, no entanto, nada igual”.
Aliás, Eliot era um
dos muitos poetas “do coração’ de Ferlinghetti, como diz seu biógrafo
Cherkovski, a páginas tantas do livro que a Ulla me trouxe – que leio numa
rápida passada e que repasso a vocês nessa tradução apressada: “Para sua tese La Cité: Symbole dans la poesie moderne: À
la recherche d´une Tradition Metropolitaine (“The City as a Symbol in
Modern Poetry: In Search of a Metropolitain Tradition”), Ferlinghetti leu
centenas de textos, concentrando-se em T.S. Eliot (The Waste Land), no Hart Crane de The Bridge, no poema de Maiakovski sobre a Ponte do Brooklyn, em
García Lorca (The Poet in New York),
no Whtman de Leaves of Grass.”.
Ferlinghetti
escreveu essa sua tese quando morou por um tempo em Paris. Foi nos anos 1940, e
em Montparnasse, a alguns quarteirões do Boulevard St. Germain, que chamava de
“terra de Hemingway”, onde frequentava o Café Dôme, um dos preferidos do
romancista.
Face a seu profundo
interesse por Ezra Pound e Eliot, além de outros poetas americanos (e aqui
acrescento Allen Ginsberg, de quem lançou em 1957 a primeira edição de seu
famoso poema Howl/ “O Uivo”), além de
vários poetas da beat generation,
Ferlinghetti pesquisou sobre poesia em praticamente toda a literatura mundial, não
somente para sua tese, mas também para subsidiar seu próprio desenvolvimento
como poeta.
Um poeta com a força
de versos como os que traduzi na abertura de seu A far Rockaway of Mind que a Ulla me trouxe e que releio agora aqui
no Shangrilá, sob a sombra de meu elegante chapéu Panamá:
Link para a crônica
publicada em meu blog quando da morte de Lawrence Ferlinghetti: