3 de out. de 2018

A liberdade de um comunista

1966: em visita aos jornais Marighella
aponta orifício da bala policial que o
atingiu num cinema em 1964.
   Em Brasília, maio de 2015, vejo Caetano cantar a música que fizera para Carlos Marighella e lembro-me que também eu tinha realizado em 1970 um poema onde mencionava o assassinato do poeta-guerrilheiro, e logo pensei em escrever alguma coisa sobre isso. Mas acabei me esquecendo. Acontece que em maio de 2017 vi no Canal Brasil o belo filme que Isa Grinspum, sobrinha de Marighella, realizou sobre seu tio.  Fiz algumas anotações, mas também não avancei no texto.   
Fui novamente despertado em outubro daquele ano pela leitura de um livro sobre Hélio Oiticica, que de certa forma me remeteu (erroneamente, como veria depois) a Marighella. Foi quando comecei a “editar” todas as anotações e o texto começou a sair. Militante comunista desde a juventude, deputado federal constituinte e fundador do maior grupo armado de oposição à ditadura militar, o mulato baiano Carlos Marighella teve vida tão frenética quanto surpreendente. Era também um profícuo poeta, irreverente e brincalhão. 
Aos 18 anos, respondeu em versos a uma prova de física no Ginásio da Bahia: Doutor, a sério falo, me permita,/Em versos rabiscar a prova escrita// Espelho é a superfície que produz,/ Quando polida, a reflexão da luz.// Caso primeiro: um ponto é que se tem; /Ao segundo um objeto é que convém.// (...) // No prolongado, luminoso raio, /Que o refletido encontra de soslaio/Dois triângulos então o espelho faz/ Retângulos os dois, ambos iguais.//Iguais porque um cateto tem comum/ Dois ângulos formando um//Iguais também, porque seus complementos/Iguais serão, conforme seus argumentos”.


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Ainda em 2017, e de novo em Brasília, encontro o livro “Marighella/O guerrilheiro que incendiou o mundo”, de Mário Magalhães (Cia das Letras, 2012). Com mais de 700 páginas, a obra mergulha com larga abrangência na trajetória de vida e luta do guerrilheiro. E tem uma abertura empolgante, como se fosse um thriller cinematográfico, ao narrar como em maio de 1964 ele foi baleado dentro do cinema Eskye-Tijuca, no Rio, e preso por agentes do Dops após muita resistência. Não por acaso, o livro foi roteirizado pelo ator Wagner Moura para o filme que realiza sobre o poeta-guerrilheiro. “Eu quero fazer um filme de ação”, diz Moura. “Marighella é um personagem fundamental de nossa história recente, que foi apagado pela ditadura militar. Meu filme é sobre ele, sobre a luta armada, mas é sobretudo um filme sobre a infâmia, sobre a forma mentirosa como a história pode ser contada”.
Já tinha dado meu texto como “quase” pronto quando assisti no Canal Arte1 ao filme de Ninho Moraes sobre o Tropicalismo, onde lá pelas tantas Marighella é também e mais uma vez citado. Tudo a ver. Coloco essas anotações no liquidificador, sacudo e sacudo e saúdo o texto que surge.  

Momento ético
Outubro de 2017, meu aniversário, ganho de minha filha Ulla o livro “A asa branca do êxtase”, escrito pelo argentino Gonzalo Aguilar sobre o artista plástico Hélio Oiticica.  Professor de Literatura Brasileira e Portuguesa na Universidade de Buenos Aires, Aguilar articula na introdução um super erudito ensaio sobre a arte dos anos 60 – a poesia concreta e o tropicalismo em destaque – povoada pelos bólides & parangolés de Oiticica & outras & outras de suas criações.
Ao falar do artista brasileiro, o professor argentino destaca a questão do “momento ético”, aquele que “envolve o sujeito em sua integridade, já não como portador de um olhar estético, e sim como ser político e vital. Mais ainda, comove-o em sua própria existência, porque momento ético significa que o sujeito deve abrir-se para o outro, até diluir-se no impessoal e no coletivo, levando sua arte até os limites da invenção”. E, logo depois: “a violência já não pode ser contida (representada) pela arte, e sim somente sua presença questiona a arte, abre-a e até pode chegar a diluí-la ou despedaçá-la”. 

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    Quando aborda o “Bólide caixa 18 Poema caixa 2, Homenagem a Cara de Cavalo”, Gonzalo Aguilar traz informações que eu desconhecia: “a foto que aparece na bandeira ´Seja Marginal, seja herói´ não foi tirada, como se diz frequentemente, de Cara de Cavalo, e sim do bólide de Mineirinho (embora não se trate de uma foto do próprio Mineirinho, mas que Oiticica tirou de um jornal). Outra obra que inclui um cadáver é um dos ´Subterranean projects´. Trata-se do cadáver de Carlos Lamarca, guerrilheiro assassinado pela ditadura em 1971, em montagem com o poema ´Calidouescapo´, de Augusto de Campos”.

Vanguarda & repressão
Este meu texto estava correndo certinho até agora, até mesmo com a coincidência de meu nascimento com o de Lamarca, 23 de outubro, o que me dava mais um gancho para o seu desenrolar. Mas, de repente, percebi que a data do assassinato não conferia: Carlos Marighella, que era/é o protagonista deste texto, de mais essa “controvérsia”, foi também morto pela truculência policial, mas em 1969. Ia então corrigir a “falha” do professor Gonzalo Aguilar quando dei por mim. Havia trocado os Carlos, Lamarca por Marighella. Mas, de certa forma, os três parágrafos aí de cima também cabem na trajetória do poeta e guerrilheiro Carlos Marighela (1911-1969). Oiticica bem que poderia ter usado em um de seus bólides a icônica foto de Marighela mostrando o furo de uma bala em seu peito.
O nome Tropicália surgiu de uma relação entre a obra homônima de Hélio Oiticica e a canção de Caetano Veloso, que na verdade ia se chamar “Mistura Fina”, e não “Tropicália”. A instalação Tropicália, de Oiticica, passava da cultura popular para a erudita e vice-versa, sem privilegiar uma ou outra. No 1º semestre de 1967 acontecem três eventos seminais para a eclosão do movimento tropicalista: o livro “Pan América”, de José Agripino de Paula, a ambientação de Hélio Oiticica e o filme “Terra em Transe”, de Glauber Rocha. Logo depois, em setembro, a montagem de “O Rei da Vela”, aquele Oswald de Andrade definitivamente reinventado por Zé Celso Martinez Correa. E, em outubro, o Festival da Record, com a apresentação de “Domingo no Parque”, de Gilberto Gil, e “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso.


José Miguel Wisnik: Tropicália Now

     Para o músico e escritor José Miguel Wisnik – em depoimento de 2011 para o filme “Futuro do Pretérito: Tropicália Now”, de Ninho Moraes e Isabel Teixeira (ver link ao final do texto) –, “tudo isso foi mostrando uma consonância, uma circulação de ideias e processos críticos, significando uma articulação entre inconformismo estético e inconformismo social. Difícil desligar a experimentação tropicalista do momento político. Vanguarda e massa faziam parte da vida contemporânea dos anos 60 e isso não era uma questão de uma aliança de estudantes e trabalhadores com camponeses. Esta conjunção não era suficiente para enfrentar o que estava acontecendo”.
     Em 1992, quando do lançamento de seu livro “Verdade Tropical", Caetano Veloso afirmaria: “Não me interessa saber o que o socialismo faria do Brasil, mas o que o Brasil faria do socialismo”. Também no filme “Tropicália Now” – que conta com uma inventiva direção/recriação musical de André Abujamra para alguns standards da canção tropicalista, não por acaso com locação concentrada no mítico Teat(r)o Oficina Usyna Uzona –, diz o sociólogo Marcelo Ridenti:  “Os tropicalistas faziam na cultura algo similar ao que o Marighella fazia na política. O inimigo do Marighella era, de um lado, a ditadura; e, do outro, uma certa posição estabelecida de uma esquerda comunista que ele achava que estava esclerosada, que fazia muita teoria e pouca ação”.  

A ternura e a ira


Clara Charf: "Provocações".

“Quando você quer bem a uma pessoa, você sempre acha que ela é ótima, tem todas as qualidades”, dizia em 2011 no programa “Provocações”, de Antônio Abujamra (ver link ao final do texto), a companheira de vida e militância de Marighella, Clara Charf.  “Mas Marighella era um ser excepcional mesmo. Além de homem forte, charmoso, ele era uma pessoa de uma ternura muito grande. Tanto é que ao longo de toda a militância dele todas as pessoas que com ele militaram, viveram juntos, guardam dele uma lembrança” (...) Abujamra interrompe a frase de Clara e diz: “Inclusive, Jorge Amado dizia que ele ´era a ternura e a ira´. Ele acertou?”.  Clara: “acertou”. Abu faz a pergunta tradicional com que encerra todos os seus programas: “Clara, o que é a vida?”. Clara: “É difícil de definir. É tudo que pulsa, tudo o que você pode realizar, fazer.  Vida pra mim é luta”.
Mito ou maldito? Tido como o “inimigo nº 1” da ditadura militar, luta foi o que não faltou ao guerrilheiro comunista, mestiço & poeta, ao mulato baiano Carlos Marighela durante toda a sua vida – apagada com seu assassinato em uma rua de São Paulo em 04.11.1969. Se por um período tornou-se deputado constituinte pelo Partido Comunista, em outros muito mais longos viveu na clandestinidade. Nas palavras do antropólogo e também poeta baiano Antônio Risério, no filme “Marighella”, de Isa Grinspum Ferraz (ver link ao final do texto), “ele era um homem inquieto, alto, forte, corajoso, valente”.

Por que Marighella?
É de Antonio Candido a voz que ouço agora no mesmo documentário: “Simbolicamente ele tinha em sua constituição biológica o povo dele. Ele encarnava esse povo biologicamente; por uma grande sorte, ele o encarnava também moral e psicologicamente. Ele sentiu a necessidade desse povo. Era um homem pobre, um homem realmente do povo. Ele não abandonou a sua classe. Como membro de sua classe é que imaginou para seu país uma situação em que a miséria acabasse, em que a justiça social se instalasse”. 
Mas, por que Marighella? Por que agora? Visto e revisto há pouco tempo, o comovente documentário de sua sobrinha Isa Grinspum me fez lembrar de algumas anotações feitas em Brasília ao assistir em 2015 ao show “Abraçaço”, quando onde ouvi pela primeira vez Caetano cantar “Um comunista”, a canção que escreveu para Carlos Marighella: “Um mulato baiano,/ muito alto e mulato/ filho de um italiano/ e de uma preta hauçá// foi aprendendo a ler/ olhando mundo à volta/ e prestando atenção/ no que não estava à vista./ Assim nasce um comunista”.


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Caetano: Abraçaço.

    Ouvindo Caetano eu pensava na coincidência de eu ter escrito ainda no início dos anos 70 um longo poema, “Telstar” – um poema, vamos dizer, “est/ético”, sobre o momento político e o Vietnam, onde o assassinato de Marighella emergia metaforicamente: “da-nang/ exclamo/ eu te amo/ quer sangue/ exclamo/ da nang/  khe sangue// 58 anos/ um mestiço/ metralhado/ amortalhado/ na metrópole// 58 anos/ amor/ talhado/ 58 anos/ um mestiço/ mestraçalhado/ na metrópole”.  
E vinha a voz de Caetano, mesclada ao meu pensar: “O mulato baiano, mini e manual/ do guerrilheiro urbano que foi preso por Vargas/ depois por Magalhães/ por fim, pelos milicos/ sempre foi perseguido nas minúcias das pistas. / Como são os comunistas?// (...) O baiano morreu/ Eu estava no exílio/ E mandei um recado:/ ´eu que tinha morrido´/ E que ele estava vivo,// Mas ninguém entendia/ Vida sem utopia/ Não entendo que exista/ Assim fala um comunista”.

A opção política
 Em “Os Parceiros do Rio Bonito”, estudo sobre os caipiras paulistas na metade do século 20, Antonio Candido fala dos bens incompressíveis, aqueles que não podem ser reprimidos por qualquer autoridade, os bens fundamentais para a existência: “Não são apenas os que se reputam essenciais à estrita sobrevivência do indivíduo, mas todos aqueles que permitem ao homem tornar-se verdadeiramente humano. Sob esse ponto de vista, são incompressíveis a participação na beleza, a euforia da recreação, o prazer dos supérfluos”.

Antonio Candido: bens incompressíveis

     E é novamente Antonio Candido quem fala no filme de Isa Grinspum: “Antes de 1930, nenhum intelectual brasileiro se achava com obrigação de tomar atitude política. Muitas vezes eles iam ser deputados, funcionários públicos, conservadores, liberais. Depois de 1930, por causa do comunismo e do fascismo, todos intelectuais passaram a sentir a necessidade de opção política. Aí os intelectuais passaram a ser ou fascistas, de direita, ou de esquerda ou liberais. Mas não puderam ficar mais omissos. Depois de 1930, Getúlio Vargas representa isso, o trabalhador urbano começou a falar. O Brasil estava passando da democracia de poucos para a democracia de todos. E a gente não podia ficar de braços cruzados”.
E logo, plena de bom humor, revém a companheira de Marighella, Clara Charf, também no documentário de sua sobrinha Isa: “Você sabe como o comunismo chegou na Bahia? Em 1935 os integralistas estavam felizes da vida, achavam que Hitler ia dominar o mundo, as ideias hitleristas. Eles foram fazer um encontro na Bahia. E o Marighella, que já tinha despertado para as lutas libertárias, chamou um grupo de jovens e eles compraram cartolinas e desenharam a foice e o martelo. Na noite anterior, subiram nos postes e colocaram lá os cartazes.  Na manhã seguinte, quando o povo despertou e viu aquilo, foi logo gritando: ´o comunismo chegou na Bahia!´. Ele era audacioso assim, muito jovenzinho. Ele era muito da coisa visual. Como fazer as coisas que as pessoas olhassem e vissem, se dessem conta. E aí ele ganhou a juventude de lá, todo mundo queria trabalhar com ele”.

Afetados de comunismo
Em 1937, Marighela vai para o Rio organizar o partido comunista que fora severamente reprimido em função do levante de 1935. No Rio, ele é preso. E a Gazeta de Notícias, jornal muito lido na época, faz um registro hilário, se não fosse trágico, de como os comunistas eram vistos e tratados naquela época: “Três cavaleiros afetados de comunismo acabam de ser afastados do público pelas pessoas que zelam pela boa profilaxia social”. Pois é, “afetados de comunismo”, possivelmente essa “doença” que vai produzir aqueles seres capazes de “comer criancinhas”.  


Marighella fotografado na prisão em São Paulo, 1939.

“Eu estive na cadeia do Distrito Federal, de Fernando de Noronha, de São Paulo e Ilha Grande” – diz Marighella em registro recuperado por Isa Grinspum para seu filme.  “Sofri mais de sete anos de prisão. As torturas a que fui submetido foram: depois dos murros, pontapés e outros golpes que me aplicaram, eu fui queimado por todo o corpo com pontas de cigarros que os próprios investigadores fumavam. Além disso, o investigador Galvão tirou o alfinete de sua gravata e enfiou debaixo de minhas unhas, deixando-as em sangue”.
Em 1939, no presídio em São Paulo, o poeta Carlos Marighella escrevia os decassílabos do poema Liberdade: “Não ficarei tão só no campo da arte/ e, ânimo firme, sobranceiro e forte,/ tudo farei por ti para exaltar-te,/ serenamente, alheio à própria sorte.// Para que eu possa um dia contemplar-te/ dominadora, em férvido transporte,/ direi que és bela e pura em toda parte,/ por maior risco em que essa audácia importe.// Queria-te eu tanto, e de tal modo em suma,/ que não exista força humana alguma/ que uma paixão embriagadora tome.// E que eu por ti, se torturado for,/ possa feliz, indiferente à dor,/ morrer sorrindo a murmurar teu nome”.

Liberdade: somos multidão


    Três anos após Marighella ter realizado seu soneto, o poema “Liberté”, de Paul Éluard, poeta francês e também comunista, é lançado em janeiro de 1942 por aviões ingleses sobre a França. Milhares de exemplares, contendo os versos mais famosos de Éluard, chegam às mãos da Resistência francesa e fornecem um novo alento na luta pela libertação da ocupação nazista. Éluard naturalmente não conhecia o soneto de Marighella, mas a “atmosfera” dos dois poemas se assemelha, e muito, como se vê nesses excertos da tradução feita a quatro mãos por Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira:
“Nos meus cadernos de escola/ Nesta carteira nas árvores/ Nas areias e na neve/ Escrevo teu nome// (...) Nas maravilhas das noites/ No pão branco da alvorada/ Nas estações enlaçadas/ Escrevo teu nome//Em toda página lida/ Em toda página branca/ Pedra sangue papel cinza/ Escrevo teu nome // (...) Nas veredas acordadas/ E nos caminhos abertos/ Nas praças que regurgitam/ Escrevo teu nome// Na lâmpada que se acende/ Na lâmpada que se apaga/ Em minhas casas reunidas/ Escrevo teu nome// (...) Em toda carne possuída/ Na fronte de meus amigos/ Em cada mão que se estende/ Escrevo teu nome// (...) Em meus refúgios destruídos/ Em meus faróis desabados/ Nas paredes do meu tédio/ Escrevo teu nome//Na ausência sem mais desejos/ Na solidão despojada/ E nas escadas da morte/ Escrevo teu nome// (...) E ao poder de uma palavra/ Recomeço minha vida/ Nasci pra te conhecer/ E te chamar// Liberdade”.
Sobre Paul Éluard, uma curiosa dúvida que vem de longe, uma controvérsia mais que controvertida. Desde os idos de minha mocidade, tempos de recusa e engajamento, de busca pelos “bens incompressíveis”, tinha pra mim um verso que não sei por que cargas d´água acreditava ter traduzido de Éluard, talvez induzido pelo poema “Liberté”: “somos um, somos multidão”. Em francês, deveria ser qualquer coisa como “nous sommes un, nous sommes foule”. Já vasculhei todo o Éluard e nada encontro. Será que esse octossílabo meio de pé (al)quebrado, “somos um” (eu e vocês, num só uníssono), “somos multidão” (o um que são todos, em marcha) é na verdade criação minha e eu nunca me dei conta ?

Links
Para o programa Provocações, com Clara Charf https://www.youtube.com/watch?v=e_KG3PC64pI
Para o filme Marighella, de Isa Grinspum  Ferraz https://www.youtube.com/watch?v=1cbe8G4G-_g
Futuro do Pretérito: Tropicalismo now