Quatro outros poemas de meu primeiro livro, selva selvaggia, em comemoração aos 40 anos de seu lançamento: dialética, semântica, libertarde, dry milk,, around the sixties, noturno do leme.
DRY MILK
a
Marcus Vinicius e Vladimir Carvalho (*)
dry
milk
no mangue
a lata
escrita com sangue
for international development
a lata agency suspensa
dry milk
donated by
american people
a lata de leite
com lixo
dry milk
& sangue
a lata
suspensa
na camisa o
super
roto homem
a cabeça
imensa
a
super-barriga e sol
e sangue
sub-
menino dry
milk do
mangue
dry milk no
mangue
os olhos dia
a dia
dialatados
o lixo no
leite
o olho na
lata
o luxo a
lata
o leite o
lixo
dry milk
drink sangue
YEAH! in god we
trust
submundo
way do mangue
YEAH! in GOLD WE TRUST
barriga e lixo
sol & sangue
YEAH! we trust!
—
YEAH! OUR TRUST!
(*) Quando estava montando no Rio o seu filme “O País de São Saruê”, no
início dos anos 70, o cineasta paraibano Vlademir Carvalho, amigo do poeta
desde a Bahia de 1964, convidou RW para fazer uma letra pra canção que o
compositor Marcus Vinícius estava criando para o filme. E falou sobre as imagens que tinha captado no
Nordeste, pessoas catando no lixo os alimentos doados pela agência
norte-americana AID, resquícios da Aliança para o Progresso. Um horror.
RW e Marcus Vinícius encontraram-se várias vezes para criar a canção.
Qual o quê! A música não se encaixava na
letra, a letra não cabia na música. O que Marcus Vinícius acabou gravando
foram mesmo as palavras que cantarolava enquanto ia
compondo. E acabou surgindo a canção-tema do filme, belíssima. Da aventura,
restou este poema que, mais de trinta depois, vai dedicado pros amigos Vladimir
e Marquinhos. Ah, sim: “O País de São
Saruê” ficou interditado pela censura por quase 30 anos. Só agora este filme de
força extraordinária está sendo mostrado ao grande público.
AROUND THE SIXTIES
come on
prepare o seu coração
a guitarra
dos beatles
comum
let´s twist
again
o cabelo
dos bichos
pode crer
jimmy ginjanis
drix man hen
barbitóxico´s blue
gin hei man drix
pode crer
jean-luc rochá jeans
vietname´s blue hué
camisa paissandu gin
hoa-mihn my lai khe sahn
pode crer
let´s make marilyn
mar war love
sex mini quant novu
ar lar ido lib
pode crer
um sol negro beta che gue
gal galo som & segredo
it´s over see sea nau
fragado dream drama vez & voz
pode crer
I want to live to dream
in latin america maria maria
as cãs violão cantinho são
o apagar do velho drama
pode crer
aroma amor romã
ticos de cuba sex libre
it´s over bahia mar
rio minas meninas
pode crer
a gente estancou de repente
oh I could have dance all
night
if I had a hammer an egg
but it´s over the big game
pode crer
era um era dois era cem
a garra dos bichos
it´s over hair head heart
come on let´s twist again
pode crer
pode ler não
rock barbeatle´s name
a manhã clara clara over
pode crer
em ipanema em que bar em
que cinema como quem
partiu quem blue bleu blau
babau seo nicolau
onze da
noite
e o mar
bate calmo
no início
da praia
contra os
rochedos
no início
contra
o mar bate
o fim
da tarde a
noite
contra o
início
os rochedos
a bandeira
aos quatro
ventos tempos
cores a
bandeira
tremula
às onze
da noite na praia
do leme no início
da noite no início
do fim no início de tudo
a bandeira sobre o rochedo
nos controla
entre carros namorados
luminosos lambuzando a aurora
entre o hot-dog e a coca-cola
a bandeira nos controla
na taberna no real
na fiorentina no recreio
do leme no boca seca
no geneal da esquina
as pessoas falam
bebem chope
com fritas fumam
scotch on the rocks
as pessoas
se
amam
se
comem
as pessoas
falam comem
soltam
risos
palavrões
consomem
pizzas
tournedos
au
poîvre cocquilles
saint-jacques
polvos
ostras
lagostas calamares
en
su tinta e lulas mariscos
os frutos do mar
o
mar
bate calmo as pessoas
bebem e falam alto e
comem e riem as pessoas
o
mar bate calmo
nenhum temor em toda a orla marítima
vendedores de amendoim
bêbados tropegando na praia
engraxates
namorados
jornaleiros
as
primeiras notícias
pelo
telex
mas
no cabelo
só
gumex
portugal ainda manchete
mas
os americanos colaboram
o
trade act cai como um fardo
sobrenadando sobre sobre latinoamerica
esfacelado pelos bulldozzers
pelos
phantoms
pela
corrupção
dos lan nol thieu & cercanias
o sudeste asiático explode
através do telstar
o
cambodja e o vietnam
morreu george stevens
mas
quem se lembra
de
shane e dos heróis
assexuados
do caubói?
são onze da noite
no leme são onze
e morreu shane
o mar bate calmo
contra os rochedos
no início da
noite
no início do leme
no início de tudo
aparentemente nenhum
vento estranho bate
no leme o navio vem
e vai se equilibrando
até quando a bandeira
vai e vem se equilibrando
o navio o leme os bares
os bêbados todo o mundo
vai e vem
o leme vem
e vai todo
o jundo vem
o vento vai
do fim do início
o vento vai e vem
tudo é afável
e terrível
até a perspectiva
da aurora
até o hot-dog
e a coca-cola
Um comentário:
muito legais os poemas; me levando pra um rio que nunca existira pra mim.
Postar um comentário