Republico a seguir o texto que escrevi para o catálogo
da exposição
da artista plástica carioca Wanda Pimentel, realizada
no CCBB/Rio em 1993.
Wanda faleceu no Rio de Janeiro aos 76 anos, em 23 de
dezembro de 2019.
Composta
em sua totalidade por trabalhos inéditos, elaborados neste 1993, essa mostra da
artista plástica Wanda Pimentel foi preparada especialmente para exposição no
Centro Cultural Banco do Brasil. Aqui, ela busca a comunicação imediata com o
espectador através da sobriedade das linhas, das cores lisas e chapadas.
Preocupação antiga, permanece a solidão de estar-no-mundo, representada pelos
bronzes metafóricos da presente “Série Monumentos”.
Fotografadas previamente por Wanda em
incursões de fins-de-semana, a cidade vazia, essas estátuas entram nos quadros
como se não entrassem, quase como esculturas à parte, tridimensionais, quase
como se, à nossa semelhança, também observassem detalhes de uma cidade
desconhecida. Não existem indicações nos pedestais desses monumentos que,
antônimos, enquadrados pelas costas, colocam-se do ponto de vista do
espectador, olhando em perspectiva.
Wanda Pimentel percorreu longa
estrada em quase seus trinta anos de ofício nas artes plásticas. Caminho
entremeado por muitas coletivas e individuais, marcantes participações na
Bienal de São Paulo, um Prêmio Salão Verão que lhe deu uma viagem à França nos
anos 70, onde participa da Bienal de Paris com suas instalações registrando
bueiros, tapumes, ralos de captadores de águas fluviais. Tempo de Pop Art,
simplificação de formas, cores mais chapadas.
Na
década de 80, surgem as mortalhas, as “Paisagens do Rio”. Wanda passa a ver a
cidade como se nos dissesse “olhem o que estou olhando, vejam comigo como eu vejo o mundo que nos cerca”. Ao entrar nos
anos 90, a artista imprime maior rigor formal aos seus trabalhos. Wanda
Pimentel é agora mescla de tensão e contenção, de despojamento. Os
enquadramentos são demarcados por traços precisos, realçando os detalhes, como
se ela direcionasse o espectador. Seus
quadros hoje refletem um denso, contido cromatismo, apenas com alguns
vazamentos luminosos em cinza sobre a dramaticidade de cores por ela mesmo
preparadas, tons em preto, raros verdes e magentas, alguns ocres e azuis
intensos. É exatamente assim, com essas cores escuras, que a artista consegue
maior tensão e expressividade.
Aos 50 anos, Wanda Pimentel afirma
estar em pleno amadurecimento de suas ideias, com o mesmo pique que possuía na
década de 60: “Sinto um domínio do instrumental, um conhecimento maior”. Ativa
participante da ebulição dos anos 60, um dos destaques da geração que
revitalizou e deu rumo às artes plásticas no Brasil, Wanda Pimentel trilhou uma
trajetória de experimentos que lhe deixou lastros de sólida experiência,
direcionando a artista para a conquista de uma linguagem pura, despojada, sua marca
de expressão por excelência. Esses trabalhos são plasmados num modo muito
particular de enquadrar o mundo, de olhar com olhos de ver as coisas, as casas,
os objetos configurados em precisa geometria, habitantes de uma paisagem que
oprime.
Ronaldo Werneck/CCBB Rio, 1993
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