GAL COSTA: SEM DOR
NA CONSCIÊNCIA
Chamada
de capa/ 1º Caderno
Correio
Manhã (22.03.72)
–
Sabe, Eu me considero uma boa pessoa e seria incapaz de matar alguém. Tenho
absoluta consciência de que não tive culpa. – A cantora Gal Costa, mais calma,
embora abatida, chegou ontem ao Rio, e explicou como foi o acidente em
Governador Valadares, onde atropelou uma mulher. Traumatizada, ela afirma que
está fazendo o que pode pela família da vítima – um velho e duas crianças – e
vai comprar uma casa nova para eles (Pág. 6).
Gal diz que acidente foi fatalidade
Ainda
um pouco abatida, porém mais tranquila, e dizendo a todo instante que está com
a consciência limpa e não teve culpa no acidente ocorrido quinta-feira última
em Governador Valadares, Gal Costa chegou ontem ao Rio, vinda de Petrópolis.
–
Estou providenciando a compra de uma casa para as crianças e o velho, que eram
toda a família da vítima. Eles são muito pobres, vivem de pedir esmolas e
estavam morando debaixo de uma ponte em Governador Valadares. Dei-lhes dinheiro
para voltarem a Teófilo Otoni, sua terra. Fiz o que pude – diz Gal.
O
acidente
A Rio-Bahia é uma estrada muito movimentada, muito
perigosa, um canal por onde é escoado todo o tráfego para o Norte/Nordeste do
País. Estava anoitecendo quando ocorreu o acidente, numa reta a cerca de 200
metros de Valadares. Embora não estivesse correndo (“sabe, eu dirijo bem,
dirijo há muito tempo. Mas dificilmente corro: raras vezes passo de 100, o que
é uma velocidade normal em uma auto estrada”), Gal não conseguiu evitar o
atropelamento.
– Tudo aconteceu assim muito rápido, como um relâmpago.
Era uma reta e eu estava a uns 90 km. Anoitecia e eu acabara de ligar os
faroletes. Vinham dois caminhões em sentido contrário e eu cheguei a vislumbrar
a mulher e as crianças, uns 10 metros à minha frente. Quando me aproximava, ela entrou na pista
olhando para o outro lado, como se tivesse percebido somente os caminhões. Eu
já estava quase em cima e não podia frear devido à velocidade. Reduzi meu
carro.
– Mas foi tudo em vão. Ela parecia meio zonza e acabou caminhando exatamente para cima de meu carro. O choque foi bastante violento. Perdi completamente a direção e minha “Variant” começou a rodopiar, quase capotando no meio da pista. A sorte foi que Wilma, uma amiga que estava do meu lado, segurou o volante, controlando o carro: eu estava tonta, sem saber o que fazer. Os dois caminhões tinham acabado de passar e se viesse outro carro em sentido contrário poderia ter acontecido um desastre ainda mais terrível.
Gal continua a contar: “prestamos os primeiros socorros à
vitima (eu, Wilma, Giselda, mulher do Macalé, e David, um músico americano que
viajava conosco) e fomos a Valadares providenciar uma ambulância, enquanto uma
família da cidade, que vinha atrás de nós, continuava atendendo a mulher.
Quando voltamos com a ambulância, ela já estava sendo tratada por essa família.
Infelizmente não foi possível fazer mais nada: ela morreu logo depois.
– Em Valadares, fui à delegacia explicar o ocorrido e
depois entrei em contato com as crianças. Eu estava muito nervosa, chorando
muito, e já vim para o Rio no dia seguinte. Felizmente, tudo já passou e agora
já estou um pouco mais tranquila. Que fazer? É a vida.
Ronaldo Werneck
Rio, 22.03.72
GAL
VENCEU A DOR:
–
EU SOU INOCENTE
Chamada
de capa/ 1º Caderno
Última
Hora (22.03.72)
UH foi ao encontro,
ontem, ao mesmo tempo de Gal Costa e de Tim Maia. Ela voltava de Petrópolis sem
mais aquela dor imensa que lhe deu a morte de uma mulher sob as rodas de seu
carro: “A morte é da vida”. Ele estava na polícia com a mulher Janete que o
acusara de agressão e agora garante: "Foi acidente o meu tapa-olho” (Pág 2).
(A
matéria escrita por mim para a página 2 de Última Hora transcrevia meu texto
acima, publicado no mesmo dia 22 de março de 1972 no Correio da Manhã. Naquela
época os dois jornais tinham uma só redação.)
Ronaldo Werneck
Rio, 22.03.72
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