Deu-se que a marquesa saiu às cinco horas. Deu-se que nunca vamos saber por que saiu a marquesa. Nem porque teria saído exata e lorqueanamente quando “um ataúd com ruedas es la cama/a las cinco de la tarde/las heridas quemaban como soles/a las cinco de la tarde”. Quando às cinco a marquesa saía, às cinco Federico morria. E Garcia Lorca e Ignacio Sanchez Mejías: “ la muerte puso huevos em la herida/as las cinco de la tarde./A las cinco de la tarde. A las cinco em punto de la tarde.”
Deu-se que jamais saberemos quem é essa marquesa e por que saía enquanto Ignácio morria. Deu-se que, raivosa por ser ignorada, a marquesa voltou às seis horas. Escandalosa. Hora do Ângelus, hora de voltar, Dona Rosa. Hora de deu-se que, pois dá-se que voltar é mister de marias, de marquesas e ave-marias. Deu-se que acabou o Cineport e a cidade está vazia Deu-se que sempre quis escrever deu-se que e nunca deu-se que.
“Diz-que”, sim. Sempre disse que sim, sim, eu digo sim como a Molly Bloom do JoycUlisses, que andou fazendo anos no último 16 de junho, junto com a derrota do Brasil na Copa de 50. Diz-que eu disse que, eu disse assim e sem tabu sobre Totem, o suplemento literário, aquele, que fazíamos há trinta anos naquela Cataguases em que justo a marquesa acabara de sair (de onde? Para aonde?), sem ver o sangue derramado sobre a areia: “Dile a la luna que venga,/que no quiero ver la sangre/de Ignacio sobre la arena”. A marquesa saía, Ignacio morria, o poeta escrevia. Ave, Maria!
A contribuição poética no TOTEM é superior à contribuição em prosa. A que podemos atribuir este fator? Ao estado de espírito da juventude?
Não, mesmo porque jovem ainda somos todos (quem não é?). Mesmo porque à época “jovelhíssimos” & trintões, quase que a turma toda. Se acaso saíram mais poemas do que textos em prosa é porque os poetas não estavam nada prosas, poetando a mil. Ou Unimed, dependendo da tosse matinal. Ou ao acaso, assim, à la Mallarmé. Mas não foram poucos os textos para Totem, se é que a memória não falha, o que nessas alturas é pedir muito: uma imensa entrevista com Humberto Mauro, outra com Rosário Fusco, outra com Chico Peixoto, resenhas diversas e sempre.
Como era a reação do público diante do TOTEM?
Na cidade, não sei bem, pois morava no Rio. Mas não acredito que tivéssemos lá muitos leitores, a não ser os de praxe: professores esparsos, alunos idem, alguns poetas municipais e literatos ibidem. Fora de Cataguases, a glória. Quer dizer, alguns leitores contumazes no distrito da Glória e outros, em número maior do que esperávamos, nos grandes centros e “até mesmo no exterior mesmo”. Havia troca de poemas e correspondência com poetas visuais do mundo inteiro. Éramos a principal vertente do movimento do poema processo em Minas. E este, por construir-se à margem da palavra, com significantes quase iconográficos, facilitou o contato com o exterior, a apreensão de seus códigos, a rápida captação de seus significados e sua disseminação. Isso nos colocou subitamente na mídia internacional, pelo menos na mídia especializada em literatura de vanguarda. Lembro que meus dois primeiros livros tiveram seus lançamentos noticiados pela Revista Docks, editada em Paris. Os do Joaquim (Branco) também. Publicávamos poetas estrangeiros e vimos nossos poemas várias vezes publicados lá fora. Nem “os meninos da Verde” nos áureos tempos conseguiram tal façanha. O que não quer dizer nada, a não ser isso mesmo: que mundo pirex, mon Dieu! Chico Peixoto, na entrevista que nos deu, dizia “Vivo em Cataguases, fora de Cataguases”. Eu, não. Eu vivi sempre fora-dentro de Cataguases. Rio (de janeiro), (b)pomba, núcleo, átomo, rio-corrente, riverun, rio-decorrente, referencial, matriz-motriz.
Atualmente, há algum contato entre vocês?
Menos do que gostaria(mos). Eu e o Quincas Branco raramente nos vemos: nós nos falamos por telefone, muitas poucas vezes, às vezes menos vezes por e-mail, tudo com freqüência nada católica. Joaquim é um vulcão de criatividade, o riso sempre aberto, novas idéias, novos suplementos: para ele o Totem não morreu. Evoé, meu menino!
É madrugada e o trem passou apitando bauxi-bauxi-bauxiiiita! A marquesa dorme, pois o seu passar é às cinco. “Ay qué terribles cinco de la tarde!/Era las cinco en todos los relojes! Eran la cinco en sombra de la tarde!”. Vazia, Cataguases acorda, que seu passsar é agora, às cinco da matina. Morre a minas noite, na contramão do trem da manhã. Sairá a marquesa às cinco horas? Há controvérsias.
Deu-se que jamais saberemos quem é essa marquesa e por que saía enquanto Ignácio morria. Deu-se que, raivosa por ser ignorada, a marquesa voltou às seis horas. Escandalosa. Hora do Ângelus, hora de voltar, Dona Rosa. Hora de deu-se que, pois dá-se que voltar é mister de marias, de marquesas e ave-marias. Deu-se que acabou o Cineport e a cidade está vazia Deu-se que sempre quis escrever deu-se que e nunca deu-se que.
“Diz-que”, sim. Sempre disse que sim, sim, eu digo sim como a Molly Bloom do JoycUlisses, que andou fazendo anos no último 16 de junho, junto com a derrota do Brasil na Copa de 50. Diz-que eu disse que, eu disse assim e sem tabu sobre Totem, o suplemento literário, aquele, que fazíamos há trinta anos naquela Cataguases em que justo a marquesa acabara de sair (de onde? Para aonde?), sem ver o sangue derramado sobre a areia: “Dile a la luna que venga,/que no quiero ver la sangre/de Ignacio sobre la arena”. A marquesa saía, Ignacio morria, o poeta escrevia. Ave, Maria!
A contribuição poética no TOTEM é superior à contribuição em prosa. A que podemos atribuir este fator? Ao estado de espírito da juventude?
Não, mesmo porque jovem ainda somos todos (quem não é?). Mesmo porque à época “jovelhíssimos” & trintões, quase que a turma toda. Se acaso saíram mais poemas do que textos em prosa é porque os poetas não estavam nada prosas, poetando a mil. Ou Unimed, dependendo da tosse matinal. Ou ao acaso, assim, à la Mallarmé. Mas não foram poucos os textos para Totem, se é que a memória não falha, o que nessas alturas é pedir muito: uma imensa entrevista com Humberto Mauro, outra com Rosário Fusco, outra com Chico Peixoto, resenhas diversas e sempre.
Como era a reação do público diante do TOTEM?
Na cidade, não sei bem, pois morava no Rio. Mas não acredito que tivéssemos lá muitos leitores, a não ser os de praxe: professores esparsos, alunos idem, alguns poetas municipais e literatos ibidem. Fora de Cataguases, a glória. Quer dizer, alguns leitores contumazes no distrito da Glória e outros, em número maior do que esperávamos, nos grandes centros e “até mesmo no exterior mesmo”. Havia troca de poemas e correspondência com poetas visuais do mundo inteiro. Éramos a principal vertente do movimento do poema processo em Minas. E este, por construir-se à margem da palavra, com significantes quase iconográficos, facilitou o contato com o exterior, a apreensão de seus códigos, a rápida captação de seus significados e sua disseminação. Isso nos colocou subitamente na mídia internacional, pelo menos na mídia especializada em literatura de vanguarda. Lembro que meus dois primeiros livros tiveram seus lançamentos noticiados pela Revista Docks, editada em Paris. Os do Joaquim (Branco) também. Publicávamos poetas estrangeiros e vimos nossos poemas várias vezes publicados lá fora. Nem “os meninos da Verde” nos áureos tempos conseguiram tal façanha. O que não quer dizer nada, a não ser isso mesmo: que mundo pirex, mon Dieu! Chico Peixoto, na entrevista que nos deu, dizia “Vivo em Cataguases, fora de Cataguases”. Eu, não. Eu vivi sempre fora-dentro de Cataguases. Rio (de janeiro), (b)pomba, núcleo, átomo, rio-corrente, riverun, rio-decorrente, referencial, matriz-motriz.
Atualmente, há algum contato entre vocês?
Menos do que gostaria(mos). Eu e o Quincas Branco raramente nos vemos: nós nos falamos por telefone, muitas poucas vezes, às vezes menos vezes por e-mail, tudo com freqüência nada católica. Joaquim é um vulcão de criatividade, o riso sempre aberto, novas idéias, novos suplementos: para ele o Totem não morreu. Evoé, meu menino!
É madrugada e o trem passou apitando bauxi-bauxi-bauxiiiita! A marquesa dorme, pois o seu passar é às cinco. “Ay qué terribles cinco de la tarde!/Era las cinco en todos los relojes! Eran la cinco en sombra de la tarde!”. Vazia, Cataguases acorda, que seu passsar é agora, às cinco da matina. Morre a minas noite, na contramão do trem da manhã. Sairá a marquesa às cinco horas? Há controvérsias.
Um comentário:
E ai poeta!!! Atacando na net violetamente hein.....Manda ver que você vai arrasar!
Postar um comentário