CENA 1
que música assim lontana e dolce
que fontana que veio de vita
afoito e em meio de mim me toma
e me inunda dessa melodia
que assoma e se assume plena
e me assombra e surge assim
e salta de um cinema
e enfim me acalma
e me leva-e-traz malabarista
de azares muitos
e poucos malabares?
noctâmbulo
artista suspenso
em fio
frágil e saltimbanco
no
derradeiro arco de um vôo
imenso e sem
louvor
de um salto
em branco
de vadio
desequilibrista
no picadeiro
vazio e sem fervor
de vida esta
dolce lontana vita
que oscila e
vibra nessa melodia
que de novo
flui e vem de muito antes
e me
preenche e me traz
descoloridos
semblantes
caras e
doloridas faces
vagos
disfarces visões
de vida
dolce vita e malencolia
que
noite-dia se formam
e me
confortam
e me
transportam
e me
transformam
em
passado-presente e magia
e miragens
de entes perdidos
elos de um
tempo semi-escondido
de
amigas-amigos e amadas
e mal-amadas
belas
belas
estrelas belas donas
em seu andor
em sua pose
e langor que
às escuras seduz
em meio a
unguentos em close
e serenos
planos plenos de luz
mas sem
sinecura sem beladona
que me cure
da beleza
impura da
dura trama que me rende
e sai desse
mergulho de câmera
e me atrai e
prende
a fragmentos
de fotogramas
restos de
rostos remontados
essa aquela
imagem que faísca
no escuro e
se cristaliza
no clarão da
tela
giulietta
magali
caterina
cardinale
milo
anouk
amada
anita
anitona
CENA 2
tudo que em
mim criança
e circo e
clowns e dança
tudo que em
mim convida
para a festa
da vida
e roda
roda-rota
rota-rota de
acordes
tudo que me
recorde
tutto che me a m’arcord
ch’è una festa la vita
os pés sujos
de infância
têm-pó e
água límpida
as mãos
sujas de dolce
vita em meio: estrada
rota-receio-ponte
de vida e vitelloni
alegria que
dança
tutto tutto
que em mim
rimini-relembrança
minas não
mais oprime
tudo que em
mim menino
rota-rito-fellini
Ronaldo Werneck
Cataguases, março de 2001
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