Meu livro “Rosário Fusco por Ronaldo Werneck/Sob o signo do imprevisto” será lançado em Cataguases, no Centro Cultural Humberto Mauro, no próximo dia 18 de março, a partir de 19 horas, na noite de abertura da exposição “Verde 90 Anos (1927/2017), organizada por Joaquim Branco, P.J.Ribeiro e por mim. Vejam a seguir os textos de orelha e de apresentação do livro, escritos por Luiz Ruffato e Joaquim Branco.
Sob o signo do imprevisto
Luiz Ruffato
O romancista, ensaísta e poeta Rosário Fusco (1910-1977) enquadra-se naquele limbo em que encontramos os escritores injustiçados da literatura brasileira. Nascido em São Geraldo (MG), mas levado aos seis meses de idade para Cataguases (MG), em vida Fusco chegou a ter sua importância reconhecida – o crítico Antonio Candido, em artigo intitulado “Surrealismo no Brasil”, publicado em 1945 no volume Brigada Ligeira, recomenda a leitura de O Agressor, chamando a atenção para a “habilidade com que é arquitetado e conduzido”.
O Agressor, lançado em 1943, tornou-se o mais afamado livro de Fusco – suas raras edições são hoje disputadas pelos leitores mais exigentes. Também aclamado é outro romance do autor, Carta à Noiva, de 1954, listado pelo ficcionista Ivan Angelo como um dos dez mais importantes da nossa história literária. Em boa hora, portanto, o poeta e cronista Ronaldo Werneck nos oferece este excelente Sob o signo do imprevisto.
Werneck, que teve o privilégio de desfrutar a amizade de Fusco, não tenta compor uma biografia, que seria um retrato de corpo inteiro, mas sim nos brinda com recortes de momentos específicos, que, vistos em conjunto, formam um mosaico capaz de nos revelar a grandeza deste personagem intenso, polêmico e essencial. São lembranças, memórias, evocações e confissões com que Werneck, com sua enorme capacidade de fazer convergir objetividade e subjetividade no mesmo espaço textual, edifica um monumento em tributo a Rosário Fusco.
O livro inclui ainda a longa e celebérrima entrevista de Fusco ao mitológico jornal Pasquim, em março de 1976, e um conto-homenagem – eu chamo de conto – de Ronaldo Werneck, “Ringo não discute: mata”, que exibe o talento do poeta para a ficção. Em suma: Sob o signo do imprevisto é um título para constar da biblioteca de todos aqueles que cultuam Rosário Fusco e admiram Ronaldo Werneck.
São Paulo, 05.02.2017
"Um Rosário vale três terços"
Joaquim Branco
Ronaldo Werneck me pede para prefaciar o seu novo livro sobre Rosário Fusco.
Difícil tarefa, porém tentadora. Impossível deixar de atender. Trata-se de dois grandes amigos (um, já falecido) e em relação aos amigos geralmente não se tem uma dimensão por assim dizer justa de avaliação.
Por outro lado, nesse caso a empreitada torna-se até fácil. Vejam por quê.
Não contando, anteriormente, meu conhecimento de sua obra, convivi com Rosário Fusco por cerca de 10 anos em Cataguases, na sua casa da Granjaria, bairro onde hoje moro.
Com Ronaldo, desde a infância, tive longa convivência, quando jogamos botão, bafo-bafo, bola, sinuca e, mais tarde, frequentamos escolas, criamos suplementos, antologias, festivais – quase tudo que se pode (e não se pode) esperar de jovens amigos.
Com Fusco, aprendi o que a universidade não pode dar: o savoir faire literário, o que é um verdadeiro romancista, a coragem, o medo e o desafio da escritura: "com quantos paus de faz uma canoa estética e existencial" (como ele dizia). De vez em quando, sempre pela manhã, bem cedo, me chamava a sua casa. "Abunde-se" – dizia ele. Eu me sentava e ouvia/via sua atuação teatral, abusiva, descentrada e centrada, quando à minha frente desfilava um mundo de literatura, filosofia, arte, ciência e tudo que saía de seu talento fulgurante. Outras vezes, parecia nostálgico, misterioso, com seu robe preto, a me receber de cabeça baixa, dostoievisquiano, monossilábico. Queria me confessar algo...
Dividi muitas experiências com Ronaldo, vivemos os trepidantes anos 60 da contracultura e das vanguardas, os sonhos dos 20 anos, namoros e festas e farras etc.
Daí mais do que justo que eu prefacie este seu livro feito de vivências do homem e escritor Rosário Fusco, pois é impossível separar os dois.
O leitor que se prepare. Aqui conhecerá a (a)ventura imperdível de um romancista que excede o romance e extrapola todas os limites da criação li- terária – e por que não dizer? – humana? Além de farta documentação de uma história de vida, ilustrações com fotos, pedaços de poemas, de bilhetes, suas boutades, opiniões sobre outros artistas, onde tudo excede e quase nada se explica.
O livro registra muito do que Ronaldo presenciou, leu e aprendeu – de detalhes pessoais a confissões "inconfessáveis", de reuniões noite adentro a tiradas criativas sobre a natureza dos homens e a especificidade das mulheres.
Portanto, este trabalho de Ronaldo Werneck, que pode ser o pórtico para uma futura biografia do autor (fica a sugestão), vai direto à curiosidade do leitor, que certamente gostará de conhecer algo mais sobre esse "vulcão das gerais" e que, em tom de brincadeira, disse certa vez para nós: "Um Rosário vale três terços".
Cataguases, 02/02/2017
Revista
VERDE
Expô 90 ANOS
“Sou de Cataguases, cidadezinha pacata de
Minas Gerais, e venho trazer a notícia de que fundamos uma revista moderna
aqui. Verde é o nome da baita" –
escrevia em 1927 o rapazote Rosário Fusco (17 anos recém-completados) ao
escritor Mário de Andrade, um dos expoentes do nosso modernismo literário. Pois
é exatamente uma baita exposição a que vai comemorar no próximo dia 18 de
março, no Centro Cultural Humberto Mauro, em Cataguases, os 90 anos do
lançamento da revista Verde – o
principal baluarte do modernismo no interior de Minas e que, com colaborações
recebidas de escritores de vários pontos do país, ajudou a disseminar o
movimento Brasil afora.
Organizada pelos
poetas Joaquim Branco, Ronaldo Werneck e P.J. Ribeiro, fundadores do Totem,
grupo de vanguarda surgido em Cataguases nos anos 1960 – que conviveram e se
tornaram amigos de vários dos integrantes da Verde –, a mostra VERDE 90 ANOS é composta por imagens & textos
sobre a revista lançada em Cataguases no ano de 1927. Na noite de abertura, a
partir de 19 horas, haverá um sarau com poemas dos integrantes da revista pela
equipe do Proler e o lançamento de dois livros: “Uma Verde História”, de
Fernando Abritta & Joaquim Branco; e “Rosário Fusco por Ronaldo Werneck:
Sob o signo do imprevisto”.
Revista Verde
“Por que enredos da Providência Divina
foi nascer, à beira de um riacho chamado Meia-Pataca, um grupo de poetas
interessantes que hão de deixar uma certa marca no momento poético que estamos
vivendo?” – perguntava-se o respeitado crítico Tristão de Athayde n´O Jornal, do Rio de Janeiro, em 1928, ao
escrever sobre a revista Verde,
lançada no ano anterior em Cataguases.
Verde tirou seis edições: as cinco
primeiras em 1927; uma em 1928; e a última em 1929, toda dedicada a Ascânio
Lopes, o principal poeta do grupo, que acabara de falecer, aos 22 anos. O
primeiro número publicava apenas escritores mineiros – Carlos Drummond de
Andrade, Emílio Moura etc – e entre eles os rapazes da cidade, núcleo de
resistência da Verde e fundadores da
revista: Ascânio Lopes, Cristóphoro Fonte-Boa, Camilo Soares, Enrique de
Resende (o mais velho, então com 28 anos), Francisco Inácio Peixoto,
Guilhermino Cesar, Martins Mendes, Oswaldo Abritta e Rosário Fusco, o mais novo
deles, com 17 anos.
Já a partir do
segundo número, vieram colaborações de escritores dos quatro cantos do país e
até do exterior. Principalmente dos modernistas de São Paulo, capitaneados por
Mário e Oswald de Andrade, que chegaram mesmo a escrever poema famoso dedicado
aos rapazes da Verde, publicado no
quarto número da revista, onde diziam: “Todos nós somos rapazes/ muito capazes/
de ir ver/ de forde verde/ os ases de Cataguases”.
No terceiro número da Verde é publicado um “abusado”
manifesto, que ficaria famoso e que pode ser resumido nos seguintes itens:
1.º
Trabalhamos independentemente de qualquer outro grupo literário.
2.º Temos perfeitamente focalizada a linha divisória que nos separa dos demais modernistas brasileiros e estrangeiros.
3.º Nossos processos literários são perfeitamente definidos.
4.º Somos objetivistas, embora diversíssimos uns dos outros.
2.º Temos perfeitamente focalizada a linha divisória que nos separa dos demais modernistas brasileiros e estrangeiros.
3.º Nossos processos literários são perfeitamente definidos.
4.º Somos objetivistas, embora diversíssimos uns dos outros.
5.º
Não temos ligação de espécie nenhuma com o estilo e o modo literário de outras
rodas.
6.º Queremos deixar bem frisada a nossa independência no sentido “escolástico”.
6.º Queremos deixar bem frisada a nossa independência no sentido “escolástico”.
7.º
Não damos a mínima importância à crítica dos que não nos compreendem.
Lançamentos,
sarau, bate-papo
Além
do lançamento dos livros de Joaquim Branco e Ronaldo Werneck e do sarau com
poemas dos integrantes da revista, a exposição VERDE 90 ANOS vai
mostrar fotos individuais e em grupos dos membros do movimento, de várias
situações em casa, com a família, as capas das revistas e livros, os textos
mais representativos, os logotipos criados por Rosário Fusco, desenhos e
caricaturas, e as biografias resumidas de cada um dos “Verdes”. Haverá também
um bate-papo com os organizadores, aberto a perguntas do público.
Em
1928, no nº 5 da Verde, ao escrever
sobre o reconhecimento em âmbito nacional da revista, dizia entusiasmado o
poeta paulista Ribeiro Couto: “Todo o Brasil está surpreso: existe Cataguases!
(...) Todo mundo foi ao mapa, roçou o dedo pela superfície, procurando,
apertando os olhos, até achar: Cataguases”.
Então,
que o público de agora aperte bem os olhos e roce os dedos no googlemap até achar: Cataguases. E que
venha ver a mostra VERDE 90 ANOS.
Agradecemos a divulgação.
Joaquim
Branco
joaquimb@gmail.com
(32) 98888-2344 e (32)3421-8280
Ronaldo
Werneck
roneck@ronaldowerneck.com.br
(32) 98819-0955 e (32) 3422-2671
Nenhum comentário:
Postar um comentário