Ronaldo Werneck
e o rio de Minas
Sem esquecer de Joaquim Branco (1940), que lançou, no ano
passado, Pequena história da fundação de Cataguases. Ou de Guilhermino César (1908-1993), que igualmente exaltou e evocou a mítica Cataguases. Ao lado de outros expoentes do Movimento Verde, como Ascânio Lopes (1906-1929) e Francisco Ignácio Peixoto (1909-1986), que, com Guilhermino César e tantos outros,
editaram a Revista Verde (1927- 1929), publicação que teve colaboradores da estirpe de Mário de Andrade (1893-1945), Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Aníbal Machado (1894-1964), Antônio de Alcântara Machado (1901-1935), Sérgio Milliet (1898-1966) e Ribeiro Couto (1898-1963), entre outros.
Da geração de Joaquim Branco, Ronaldo Werneck (1943) é outro literato que continua em plena atividade, como provam seus últimos lançamentos: O mar de outrora & poemas de agora (2014) e Cataminas pomba & outros rios (2012), livros de poemas entremeados por muitas fotos captadas pelo próprio autor e por sua esposa, Patrícia Barbosa, e outras de arquivo.
II. Poeta de textos rápidos, instantâneos, fragmentários e, às vezes, simultâneos, Werneck é, no dizer do poeta, ensaísta, dramaturgo e romancista W. J. Solha, autor do prefácio de O mar de outrora & poemas de agora, dono de um trabalho virtuosístico em cima da palavra. Solha cita como exemplo o poema “Fogalegre” em que Werneck brinca com o nome de Audrey Hepburn – happy, rap, help, burn –, tal como Shakespeare (1564-1616), 400 anos antes, pusera a sua assinatura em Antonio e Cleópatra, ao dizer que alguém, como um animal, shakes his ears.
Mais: compara-o, sem recorrer a hipérboles, a Guimarães Rosa
(1908-1967), Millor Fernandes (1923-2012), James Joyce (1882-1941) e Ezra Pound (1885-1972). De fato, Werneck, depois de deglutir toda a experiência poética do século 20, é hoje um dos poucos poetas brasileiros capazes de recorrer a todas as formas possíveis de fazer versos para expressar o seu testemunho de um mundo desgovernado, pois a vida é breve/ tome lépido o leme e engrene/ torne-a leve/ não deixe que ela se apequene, como diz no poema “Lemeleve”. É o que se pode ver também em “23.10.13”, poema em que diz: hoje tenho setenta/ e de novo e sempre/ a vida me inventa/ aos setenta e a cada dia – vírus que me adentra – tomado sou pela poesia.
Como se percebe, o livro constitui o resultado do deslumbramento do poeta pela vida e um balanço de seus setenta anos, a partir da infância em Cataguases, a atração pelo mar tão distante, a vida errante pelo Rio de Janeiro, Bahia e as viagens pelo mundo: Paris, Nova York e Barcelona, até o retorno a Cataguases na idade madura.
III. Cataguases é também homenageada em Cataminas pomba & outros rios, com o poeta recuperando na memória pedaços de sua infância, figuras marcantes de Cataguases, tipos populares, os seus familiares, seus amigos, como observou Manuel das Neves (1914-1999) em prefácio que escreveu em 1977 para Pomba Poema, livro-gênese deste. Como resumo, bastam as palavras deste poema:
(...) nada vale nadacom algemas
pois a palavra é poesia
e a poesia morreu
são cibernéticos os contatos
dos homens com os homens
e dos homens com as coisas
mas nos lados de santa rita
lá entre djaniras lá
entre faculdades
orfanatos lá
em meio ao paço centenário
lá entre marciers encobertos
lá entre andorinhas suspeitas lá
a sé velha bate que bate
diz o vate guilhermino
homenino diz-que lá
a poesia chegará
os verdes fordes gêmeos do ascânio
se transmutam
se debruçam
ainda como gerânios
e levam
upa!
o mesmo sonho na garupa
e trotam belos galgos fidalgos
amarelos burros bucólicos
burricos borrando o
município (...)
Texto na Publicação Impressa. (Clique na imagem para ampliar) |
2 comentários:
Resenha de um mestre para um excepcional poeta brasileiro.
Excelente matéria sobre a poesia de Ronaldo Werneck.
Postar um comentário