Desde o início o trabalho dessa admirável artista plástica que é Therezinha Castro voltou-se para um arenoso espaço de indagações transcendentais sobre o tempo, a persona, o être-en-soi existencial e outras mumunhas & cositas más. Um profundo mergulho de onde agora emerge a sua criança, essa menina inesperada. A Therezinha de hoje é reflexo da simplicidade imantada de sua infância, do prazer de ser menina, o riso solto – não me lembro de nada assim tão puro, tão cristalino –, o riso pleno dessa obsclara liberdade.
A
partir de sua primeira mostra individual, na Galeria Spac – Ipanema, 1980 – ou,
se, quisermos maior precisão, de sua primeira coletiva no Salão Nacional de
Belas Artes – Rio, 1973 –, a artista atravessou etapas de extrema coerência na
busca de uma linguagem própria, sempre marcada por rica densidade pictórica.
Aqui uma primeva e fugaz pincelada, um rápido primitivismo logo tomado pela
sofisticada simbologia de máscaras e ampulhetas, o tempo e a persona aflorando.
Ali um expressionismo que explode amadurecido em figurações & fulgurações
de pássaros e fetos, crianças e cores, cores e crianças e crianças e cores.
“Ils
ont oublié leur propre enfance”, exclamava atônito, na virada dos anos 50, o
Sartre da Critique de la Raison Dialectique
(Paris, 1960). Ao recuperar a infância, Therezinha Castro nos doa a sua
redescoberta e faz com que nossa criança não se obscureça no oblívio. Que são
essas garatujas senão garatujas? Esses rabiscos parecem saltar de seu suporte
com a força de um resgate da pureza. Um retorno com a sabedoria de agora, um
retomar da criança com a plenitude do adulto. Tem uma força estranha essa
Therezinha de hoje, um poder de menina, um poder que tudo pode, sem amarras, um
lúdico despojamento que só se consegue com muito sacrifício.
Ronaldo Werneck/1997-2017
Um comentário:
Muito bonito o trabalho da artista! Ela está de parabéns!
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